segunda-feira, 30 de julho de 2012

Deu na Imprensa

Supersalários aumentam o abismo social

A publicação dos altos salários do Executivo e Judiciário revelou a insatisfação de quem ganha R$ 622,00 por mês.

Enquanto um terço do povo brasileiro sobrevive com apenas um salário mínimo, no valor atual de R$ 622,00, do outro lado da moeda existem os "tubarões", que recebem os chamados supersalários. Com a divulgação das remunerações de parte das autarquias públicas do Executivo e do Judiciário do Rio Grande do Norte, veio à tona numericamente o abismo social que divide a população.

O salário médio do trabalhador brasileiro fechou o ano passado em R$ 1.650,00, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alguns privilegiados ganharam, somente no mês de junho, quantias quase 100 vezes maiores do que essa média. Dos salários divulgados de funcionários públicos lotados no Rio Grande do Norte referentes ao mês de junho, os maiores se concentram no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

A folha do TRT fechou em torno de R$ 19 milhões. Teve magistrado que chegou a receber, excepcionalmente em junho, mais de R$ 150 mil líquidos. Mas também existem ténicos ganhando mais do que um juiz. Para chegar a acumular esse valor, um trabalhador comum que recebe R$ 575,00 líquidos por mês, tem que trabalhar mais de 20 anos sem gastar nenhum centavo durante esse período.

A Constituição Federal diz que nenhum servidor público pode ganhar acima do salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que é de R$ 26,7 mil. Esse é o chamado teto constitucional. No entanto, existem pagamentos em quase todas as listas de órgãos públicos divulgadas até este sábado (28) que, na prática, extrapolam esse valor.

A justificativa dada pelos órgãos é de que os valores acima do teto correspondem às vantagens pessoais, eventuais ou pagamentos decorrentes de decisões judiciais relativas a dívidas passadas. Esses itens não são incluídos pelos entes públicos para a verificação do teto.

Enquanto aqueles que possuem os salários privilegiados têm condições de luxar, com carros importados, uísques caros e viagens para o exterior, a maioria dos trabalhadores precisa fazer "milagre" para sobreviver. O abismo social é profundo até mesmo entre os próprios servidores.

Professora diz que salário baixo não valoriza a educação
Profissional responsável por formar os cidadãos brasileiros, o professor entra num lugar nada confortável nessa cadeia social. Com um salário bruto na média de R$ 1.300,00 no ensino público em Natal, os professores receberam em junho mais de 100 vezes menos do que grande parte dos que têm supersalários. Mesmo tendo curso superior e com uma profissão vital para o desenvolvimento da sociedade, a carreira de professor é uma das menos atrativas economicamente.

A professora Marilanes França de Souza, 59, trabalha na educação municipal há 23 anos, dando aula nas séries do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, na Escola Chico Santeiro, no Bairro Nordeste. Na sua avaliação, a disparidade social entre os professores e outros profissionais, é uma prova de que a educação não é valorizada. "A valorização da educação passa pela valorização do professor", declarou.

Para Marilanes, a falta de atrativos da carreira de professor faz muitos bons profissionais abandonarem a profissão. "Essa desigualdade social entre o professor e outras profissões mostra o quanto não existe preocupação na formação dos brasileiros. Deveria haver uma mudança neste sentido", diz.

"Muitos bons profissionais até se interessam pela área, mas acabam mudando de rumo pelos péssimos salários e as más condições de trabalho", apontou a educadora.

Fonte: Diário de Natal - 29/07/2012

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