terça-feira, 3 de abril de 2012

Corrupção

O senador do bicheiro na corda bamba

Demóstenes Torres se enrola para explicar ligação com Carlinhos Cachoeira

Mais um suposto defensor da ética no Congresso foi pego de calças curtas. Desta vez, o então arauto da honra e dos bons costumes, o senador e ex-procurador Demóstenes Torres (DEM-GO), se vê cada vez mais enrolado. O dirigente dos demos até agora não conseguiu explicar sua estreita relação com o contraventor Carlinhos Cachoeira, famoso bicheiro e operador de uma rede de jogos de azar, preso durante a Operação Monte Carmelo da Polícia Federal.

Diante da avalanche (ou cachoeira) de denúncias que atingem o então ilibado senador, a única resposta tem sido o silêncio. E não é difícil entender a razão. Entre as revelações divulgadas nas últimas semanas constam a geladeira e o fogão importados, ambos no valor de R$ 27 mil, que o contraventor presentou Torres, além do depósito de R$ 3 mil realizado por Cachoeira para pagar uma conta de táxi aéreo do senador. O nó, porém, está no Nextel dado pelo bicheiro a Demóstenes Torres. O rádio habilitado nos EUA seria supostamente à prova de grampo e serviria para as conversas reservadas entre o senador e o bicheiro. Quase 300 ligações, segundo as investigações.

O parlamentar sustenta que teria apenas uma relação de amizade com Cachoeira. No blog do também amigo Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, o senador afirma que "há muita coisa da vida pessoal de um círculo de pessoas, intimidades, conversa do dia-a-dia" para justificar o número de ligações. Detalhes das investigações da Polícia Federal e vazadas para a imprensa, porém, mostram uma relação bem mais "profissional".

O senador, ex-secretário de segurança de Goiás, passaria ao contraventor informações de reuniões internas do Senado. Segundo reportagem da revista Carta Capital, Demóstenes teria direito a 30% dos ganhos do bicheiro nessa parceria. Isso daria a bagatela de R$ 50 milhões nos últimos seis anos. Para a Polícia Federal, não é novidade o envolvimento do senador nos esquemas de jogos ilegais. Demóstenes foi pego em duas investigações contra a contravenção, como a Operação ‘Las Vegas’ e Monte Carmelo.

Um dos aspectos mais estranhos nessa história, típica de um filme da máfia, é a recusa da Procuradoria Geral da República em investigar o senador, já que desde 2009 um inquérito da Polícia Federal já estava na mesa do procurador-geral Roberto Gurgel, dando conta do envolvimento de Demóstenes com o contraventor. Só agora, quando o escândalo vem à tona e não há como fazer diferente, o procurador pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para investigar o caso.

Quem é Demóstenes?
O então líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres, construiu sua carreira política sob a imagem de parlamentar ‘íntegro’ e ‘honesto’. Era um dos principais defensores que o DEM, em sua crise após deixar o Governo Federal, se assumisse mais claramente como uma sigla de direita.

No ano passado, o parlamentar deu uma pequena mostra do que talvez significasse isso. Em um raivoso discurso contra as cotas raciais (o DEM foi à Justiça contra as cotas na UnB), o senador afirmou que a escravidão havia sido ‘lucrativa’ para a África, responsabilizando os negros pela condição em que sofreram por séculos no país. Não contente, Demóstenes foi além e chegou a negar que mulheres negras escravas tivessem sido estupradas. Para ele, foi tudo ‘consensual’.

Embora Demóstenes Torres tenha tentado passar uma imagem de uma direita supostamente moderna e honesta, tendo importantes setores da mídia ao seu lado, não representava mais que a velha direita, machista, racista e elitista do velho PFL. E corrupta, como podemos ver agora.

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